Justificativa poética para indiferença

Há na lágima não caída
no vivo túmulo
do pai ausente
a úmida culpa redimida
pelo tórrido desejo
na distante mulher presente.
Uma rosa que aflora
não colhe
o olho que a adora
sorve a vida que lhe brota
e a morte que ignora.
A rosa, como o rato
vivem eternamente
o momento que lhes brotam
indiferentes
ao sentimento que lhes colam.
Há, na indiferença
uma plenitude inexata:
a rosa murcha
à água que não a toca
o rato estrebucha
na ratoeira
que o esboça.
Todo homem sobrevive
à indiferença que o evoca:
rega, com lágrimas secas
seu cadáver lasso
devorando a ausência
na ratoeira que lhe brota.
E sente assim, efusivamente
o sentimento ausente
do pai ou da mulher
que não o toca.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *