Esperamos a criação de um robô
que imite à perfeição
a imperfeição humana:
os gestos incalculados
a matemática imprecisa dos afetos
que se criam à imagem e semelhança
de uma fome que se devora na curiosidade
de criar-se um sentido –
na fome de livrar-se da falta de sentido:
um robô que invente amor ódio
e outros apetites não banais
que sublimem a indiferença (tão demasiado humana)
e que ame o que for mesmo não sendo amado
que odeie e massacre sem razão lógica
que não seja a incompreensão do amor que ele criou
Um robô que mimetize a criação de alguma ideia
que explique as próprias condições de sua fragilidade
e não ofereça soluções prontas para o impasse que cria
Um robô que poetize sua existência,
subvertendo a funcionalidade de seus gestos,
ações e linguagem
um robô imperfeito que cria um deus humano à imagem e semelhança e superação
do deus imperfeito que o criou
Recriando sua imperfeição, o homem será então
mais que perfeito:
será sublime como o gesto divino que ele inventou.