A tragédia finca seu silêncio no corpo ausente de um culpado .
Ninguém é culpado por não te olhar , desejar , amar . Ninguém é culpado do teu desejo negado que se deixa tocar por outra mão que não a tua e acaricia teu ódio que se espalha ao indefinido.
Ninguém é culpado pelo vírus sem consciência que se alimenta do teu vigor ou do teu vigor que se queda consciente da tua ausência de vontade que te abraça sem fervor .
Nem mesmo você é culpado por amadurecer o teu querer e apodrecer o desejo primaveril pelo que te anulava. Você se descobre e sua descoberta te encobre por onde tua febril juventude te amparava na mais lírica ignorância que te esboçava um
Sorriso de felicidade. Você ainda anseia pela ignorância que emoldurava teu sorriso p
Ora destroçado.
Ninguém para culpar
Um terremoto não tem
Culpa . Uma rejeição não tem culpa . Uma morte não tem culpa. A queda de uma vontade não tem culpa . Não se culpa a suposta traição de quem não é fiel a teus ideais e intenções . Sem ninguém para culpar , restam os reparos das pequenas ruínas cotidianas: a cura dos feridos que ainda desejam , a reaprendizagem da vontade , a realocação de mortes e afetos ainda vivos , a acao de amar para além da vontade de um amor que se foi ou que não mais chega.
A ausência da culpa apodrece o corpo e amadurece uma possível santidade.