Sonhei que me reconciliava contigo . Recompunha e refazia
os gestos nunca dados
desperdiçados
na ausência de todo afeto envergonhado –
gestos espalhadas no chão da inação.
Recompunha o tempo perdido
no silêncio voluntario que
agora ergue o orgulho
E edifica a mágoa .
Sonhei que falava a simples palavra nunca dita que
erguia a ponte para você.
Todo o simples movimento de uma palavra não dita era consumado com a simplicidade de quem levanta uma história humana com
um mero olhar que recompunha a visão
sobre as poucas coisas que importam . Sobre as poucas coisas que existem .
No sonho , esparramadas ao chão
as falhas de comunicação
eram a ponte onde pisávamos
pra chegarmos às nossas mãos.
Mãos que agora esculpiam a reconstrução constante do que se perdeu em nós: alguma palavra que nos sustentava , ideia que nos embalava , amizade que nos atravessava .
A escultura da perda se arrebentava no sonho onde a realidade ainda berra
pra chegar à construção constante
de uma realidade entre nós.
Acordei e agora esculpo o ar
onde retomo tuas mãos perdidas
onde toco os gestos onde nos perdemos
onde arranho os gestos futuros
em que nos tocamos
onde o monumento do tempo
vai se destroçando aos poucos ,
indiferente ao sonho
tão próximo à realidade .