Contra a covardia
Não há medo que sobreviva
ao cotidiano enfrentamento
da falta de sentido .
Não há falta no sentido que se cria
Na doação sem cálculo .
Não há morte para a cotidiana ressurreição
Que rompe todo nada que tenta nos envolver .
Nada há que não seja criado :
Cria- se a justiça
, produto calculado do amor
que nos cria sem cálculo
a fim de destruir nossa íntima anemia .
Ao covarde resta a coragem
da anulação da epifania :
uma palavra , um gesto um ato
tudo é subvertido pela covardia.
Mas a criação desta noite
nos serve à esperança
do nascer de um novo dia .
Nenhum silêncio nos cala
Nem palavra maldita nos fala .
Nada há que não seja criado :
Desnatura – se a natureza :
tiramos da boca da nossa fome
O gosto da misericórdia
Com que alimentamos
a insaciada covardia
que busca nos devorar .
Saciamos nossa fome de perdão
Ressuscitando a quem nos quer matar