Dividido

O país anda dividido
Ninguém se olha sem mútua desconfiança. O ódio civilizado escorre pelos silêncios que gritam a ignorância da indiferença calculada.
Civilizado apocalipse , pais não reconhecem filhos , mães mordem seus úteros , amigos se partem em bolhas que murcham em solidões coletivas. Ainda amo as penugens das axilas da feminista que castram minha distância . Ainda amo as divisões que nos aproximava.
Ninguém sabe direito porque se dividiu. Nascemos partidos e procuramos alguma parte que complete nosso desencaixe .

O pão segue sem divisão . Ninguém por ora parte um pedaço da sua carne para cicatrizar um vazio que jamais se esgota . O vazio nunca se esgota na fome de um outro que jamais se sacia . É este vazio que nos amamenta .

Nos dividimos pra nascer: o útero da mãe não mais embala o sono de nosso conforto. Mas nunca do útero partimos: Nos unimos pra viver : o sono do desejo desperta a vontade de a outro corpo sempre pertencer.

O país anda dividido. E você , mísero feto partido , aprenda a andar rumo a um útero que estranha e desconhece
a fim de poder renascer .

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