O real
O céu mente sua imagem real:
estrelas mortas, astros não nascidos
esperam pela luz que não chega a tempo
aos nossos olhos
que também nos mentem
a matéria vista:
os limites da nossa visão
enxergam a beleza do rosto
que não se desfigura nos póros abertos
cicatrizados pela generosidade
de nossa cegueira
O que olhamos nos olhos alheios
é o ideal virtual
de como queremos ser vistos.
O verde da grama sintética
apascenta os nossos pés
que sentem a natureza
de uma humana invenção.
O sabor do fogo
alimenta o gosto
da besta cozida
pela real civilização
O calor do sol
em nada se compara
ao afeto fabricado
de uma amena calefação.
A vida cria sua imagem irreal:
paisagens mortas, corpos não nascidos,
crias não vividas
não esperam pela luz que atravessa o tempo
a olhos vistos
que também olham
para além do que cria
nossa mesma imaginação.