Respondo a vozes do passado.
Respondo ao silêncio
da minha voz futura
que ecoa a projeção do presente
que jamais passará.
Ecoa a mudez do grito
que ainda hoje espera
por palavra que não veio
que desespera
o anseio da palavra
que não há
que exaspera
a voz que não ouve
o apelo do sim
que aceita o limite da voz
que não cabe na expressão
que não cabe na intenção
de se fazer ouvir
o vento que tudo arrasta
ao sabor do tempo,
tempo que silencia
ao grito da resposta
que não houve
do silêncio que não ouve,
tempo que se arrasta
pela voz que o enxerga
e engole na palavra
que o come.
Recrio a palavra
para caber no tempo.
Recrio a cena
para sorver o vento
para calar o tempo
que me embala por dentro
em feroz cantiga
o grito
da palavra não dita
o eco
da palavra maldita.